Após quatro anos, as bases de proteção etnoambiental (Bape) da Terra Indígena (TI) Yanomami serão reabertas. A ação é significativa para o combate ao imenso garimpo ilegal, que tem prejudicado o ecossistema da região, a vida e integridade dos Yanomami, Yek'wana e povos isolados que habitam a área. Serão reativadas as bases Demarcação, no rio Mucajaí; Kore-korema, no rio Uraricuera; e Serra da Estrutura, no afluente do Mucajaí.
A exploração devastadora dos minérios, além de levar à contaminação dos indígenas por mercúrio, ter assoreado e poluído rios e destruído parte da floresta, trouxe fortes interferências no modo de vida das comunidades, ocasionando a desorganização social, transmitindo doenças e colocando a população em situação de vulnerabilidade.
Outra grande preocupação referente à ação garimpeira é o risco que correm os indígenas isolados na região. A Funai confirma a existência de um povo isolado e estuda a de outros seis cujos vestígios já foram registrados. Essas populações, além de sujeitas a conflitos com garimpeiros, também estão mais suscetíveis a doenças comuns entre os não-indígenas, podendo uma simples gripe dizimar vários integrantes de um grupo.
Em carta entregue à Funai, no último dia 14 de maio, Davi Kopenawa, prestigiada liderança indígena e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HUY), representantes da Associação do Povo Yek'wana (Seduume) e da Associação Ninan do Estado de Roraima (Taner) alegaram que, desde a demarcação da terra indígena, em maio de 1992, a situação do garimpo nunca esteve tão alarmante. "O acompanhamento que estamos fazendo estima atualmente dentro da área Yanomami mais de 10 mil garimpeiros. [...] essa situação traz extrema vulnerabilidade para o povo Yanomami e Yek'wana, que vê com bastante apreensão e impotência esse momento trágico", declararam as lideranças.
A reabertura das Bapes se tornou prioridade da Diretoria de Proteção Territorial (DPT) após denúncia do Ministério Público Federal de Roraima e decisão da Procuradoria Federal de do estado, que visou a proteção dos povos indígenas da TI a partir do combate ao garimpo, em novembro de 2018. Por meio da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yek'wana (FPEYY) e das Coordenações Regionais Rio Negro e Roraima, a Funai montou complexo plano de trabalho, envolvendo a participação de indígenas e de instituições governamentais.
Bruno Pereira, coordenador de Índios Isolados e de Recente Contato, ressalta que, para o objetivo das bases ser alcançado, é necessário trabalhar sob o que chama de "metodologia das bases de proteção da CGIIRC", isto é, a presença contínua do Estado em campo, 365 dias por ano com as forças de segurança. "As bases são um primeiro passo, uma maneira de barrar o acesso fluvial do garimpo, mas há, ainda, o acesso aéreo que exigirá uma forte e articulada ação do Estado por meio do Exército, Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública de Roraima, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e Ministério Público Federal. A abertura das bapes além do controle no acesso irregular na terra indígena, também nos proporcionará mais informações sobre a presença e formas de ocupação territorial dos índios isolados que compartilham a terra indígena com os Yanomami e Yek'wana", pontuou o coordenador.
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